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Cidades amaldiçoadas / Frédéric Sayer

Frédéric Sayer

“Por outro lado, mito da cidade amaldiçoada entrou em voga na década de 1970. A principal característica deste mito é que ele gera ídolos ou falsos mitos. Estes simulacros são objetos sem história, o desligamento irrevogável entre o sagrado e o profano. São a influência universal maldita do antimito, que se alimenta de sua própria carne em uma orgia destrutiva. Este mito é canibal.

Daí a própria construção urbana ver-se amaldiçoada. Daí a angústia que atormenta a nossa civilização. Uma maldição que foi lançada quando toda a esperança se perdeu em meio ao progresso tecnológico, quando os campos de concentração foram expostos em 1945. Uma maldição universal, que é o símbolo canibal da perda de nossa capacidade de simbolizar. Pior ainda do que a maldição de Deus, quando fez chover sobre a lendária cidade da desonra, é a própria ausência de expressão divina – o silêncio ensurdecedor da barulheira urbana. O ruído de fundo da cidade e uma fúria sem significado. A imagem anterior do muro de silêncio é eloquente. Assim como a imagem da superfície sem profundidade. Em suma, ser humano é ter um corpo, mas, ao mesmo tempo, ser vazio. Nós ocupamos espaço, mas somos abertos através de nossos orifícios.”

Extraído da tese de doutorado de Frederic Sayer, Sorbonne, 2007

Image: FRAC Installation, Triptyque